Num mundo distópico, estranhamente verossímil, um homem cresce posto nos centros, notado e requisitado pelos transeuntes desde a sua infância. De traços firmes, vistosos e atraentes, seu rosto simbolizava para si e aos outros, em sua percepção, um passe livre para o protagonismo do espetáculo da vida.
Quando diante do contraponto, justificado no consciente do outro ou no inconsciente de si mesmo, Aparecido se vê às margens, com seus traços pouco nítidos, como borrões disformes. Deixa de ser seu próprio artigo definido e passa à indefinição. Não mais nome próprio, mas sujeito comum.
Como lidar? Vai ao mercado e compra um novo rosto, com cores, firmeza e vigor. Quanta alegria!
Não se sustenta…
A compra foi de um produto feito aos moldes e aos montes.
“Você se acostuma"
Quando a autenticidade de ser quem é perde lugar para o desejo de atender ao outro, invariavelmente, não se identifica mais quem se é no espelho.
Máscaras e reflexos
Verdades e subterfúgios
03.12.24
César Porpino